Point da Psicanálise – por Profª Dra. Cléo Palácio

 

Um espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo.

Aqui, a Psicanálise & Neurociências ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível.

Este é o Point da Psicanálise, o lugar onde teoria e experiência se encontram, e o saber científico se torna também encontro humano. Texto adaptado e comentado por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.

 O Mistério do Cérebro Humano: A Máquina Mais Complexa do Universo e o Enigma da Consciência

 

Por Profª Dra. Cléo Palácio | Point da Psicanálise & Neurociência

O cérebro humano é, sem exagero, a estrutura mais complexa já identificada no universo conhecido. Mesmo com os avanços extraordinários da neurociência, ainda compreendemos menos de 10% de sua organização funcional, especialmente no que diz respeito aos processos que criam aquilo que chamamos de mente, pensamento, subjetividade e consciência. Essa limitação não é falta de inteligência humana, é o tamanho do mistério.

Autoras e autores como Antonio Damásio, Joseph LeDoux, Oliver Sacks, Daniel Siegel, Mark Solms, Robert Sapolsky e Gerald Edelman são categóricos: sabemos onde o pensamento passa, mas não sabemos como ele surge. A ciência identifica as redes neurais ativadas, mede impulsos elétricos, monitora sinapses, mapeia neurotransmissores, mas o salto da matéria para a experiência subjetiva ainda é inexplicável.

 

1. A arquitetura impossível: 100 bilhões de neurônios trabalhando em silêncio

 

O cérebro humano abriga aproximadamente 100 bilhões de neurônios, cada um deles capaz de realizar centenas de disparos por segundo. Juntos, eles formam uma malha que supera qualquer supercomputador já construído.

Estima-se que o cérebro poderia armazenar o equivalente a 2,5 milhões de gigabytes de informação. E faz isso tudo consumindo menos energia que uma lâmpada de 20 watts.

Como observa Sapolsky (2017), “nenhuma máquina criada pelo homem chega perto da eficiência energética e adaptativa do cérebro humano”.

 

2. Só conhecemos a superfície: 90% do cérebro permanece um território desconhecido

 

Apesar dos avanços em neuroimagem, como fMRI e PET Scan, a maior parte do funcionamento cerebral ainda não é compreendida.

Isso acontece por três razões:

1.               A complexidade das conexões: cada neurônio pode se conectar a até 10 mil outros.

2.               O processamento distribuído: diferentes áreas trabalham juntas, de modo não linear.

3.               A neuroplasticidade: como explica Siegel (2012), o cérebro muda sua própria estrutura em resposta à experiência.

Existem redes ocultas, silenciosas e ainda inexplicáveis, operando neste exato momento dentro de cada pessoa.

 

3. O maior enigma científico do século: de onde vem o pensamento?

 

A neurociência sabe onde o pensamento circula, mas não como ele é criado.

Sabemos identificar:

·                 quais regiões ativam durante um raciocínio lógico;

·                 quais redes são acionadas durante a memória;

·                 quais áreas disparam durante a emoção;

·                 como as sinapses liberam neurotransmissores.

Mas nenhum cientista foi capaz de explicar como um conjunto de impulsos elétricos se transforma em: uma ideia, um sentimento, uma imagem mental, um pensamento silencioso, a “voz interna”,  a consciência de si

Mark Solms (2021), referência mundial em Neuropsicanálise, afirma:

“A maior questão da ciência não é encontrar vida em outro planeta; é compreender como o cérebro produz a mente.”

Ou, como resume Damásio, ainda não sabemos como a carne produz espírito, como o biológico se converte em subjetividade.

 

4. Uma máquina que cria emoções, linguagem, lógica e amor — tudo ao mesmo tempo

 

Dentro do cérebro humano, acontecem simultaneamente:

·                 regulação emocional (sistema límbico);

·                 planejamento e raciocínio (córtex pré-frontal);

·                 linguagem (áreas de Broca e Wernicke);

·                 coordenação motora (cerebelo e córtex motor);

·                 memória (hipocampo);

·                 vigilância e sobrevivência (tronco cerebral).

Joseph LeDoux (1996), estudioso das emoções e do medo, já afirmou que o cérebro opera mais rápido do que a consciência consegue acompanhar.
Ou seja: sentimos antes de entender o que sentimos.

 

5. A consciência: o maior mistério da ciência moderna

 

Mesmo com séculos de avanços, ninguém sabe o que a consciência realmente é. As teorias mais importantes estão divididas:

·                 Neurobiológicas (Damásio, Edelman): consciência é integração de múltiplos sistemas.

·                 Cognitivas (Baars, Dehaene): seria um “teatro global”, onde algumas informações entram em foco.

·                 Neuropsicanalíticas (Solms): consciência nasce da necessidade do organismo de sentir estados internos.

·                 Fenomenológicas: a experiência consciente é irredutível a processos materiais.

Apesar das teorias, nenhuma responde à pergunta essencial:
Por que o cérebro não é apenas uma máquina elétrica, mas uma máquina que sente?

 

6. Se todos os cérebros são feitos dos mesmos elementos, por que cada mente é única?

 

Todo cérebro humano é formado por:

·                 os mesmos neurônios

·                 os mesmos neurotransmissores

·                 a mesma bioquímica

·                 a mesma estrutura evolutiva

Mas não existem duas mentes iguais.

Cada pessoa tem:

·                 uma frequência neural própria

·                 uma história

·                 uma memória emocional

·                 uma forma única de perceber o mundo

·                 uma assinatura subjetiva

É como se o cérebro fosse o instrumento, e a mente, a música, compondo sempre algo novo, jamais repetido.

 

7. O enigma filosófico: acaso, propósito ou algo além?

 

Mesmo os cientistas mais céticos admitem que ainda não compreendemos:

·                 como a vida começou;

·                 como a mente emerge da matéria;

·                 por que o universo parece afinado para permitir consciência;

·                 o que sustenta a unidade da experiência subjetiva.

Não há consenso. Há mistério, e isso, por si só, é fascinante.

 

REFERÊNCIAS

 

DAMÁSIO, Antonio. O Erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
EDELMAN, Gerald. Bright Air, Brilliant Fire: On the Matter of the Mind. New York: Basic Books, 1992.
LEDOUX, Joseph. The Emotional Brain. New York: Simon & Schuster, 1996.
SACKS, Oliver. O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SAPOLSKY, Robert. Behave: The Biology of Humans at Our Best and Worst. New York: Penguin, 2017.
SIEGEL, Daniel. The Developing Mind. New York: Guilford, 2012.
SOLMS, Mark. The Hidden Spring: A Journey to the Source of Consciousness. New York: Norton, 2021.

 

NOTA ÉTICA & AUTORAL — CMP Palácio | Point da Psicanálise

 

Texto elaborado e adaptado pela Profª Dra. Cléo Palácio com base em obras científicas consagradas nas áreas de neurociência, psicologia e neuropsicanálise. Conteúdo desenvolvido para fins educativos e culturais, conforme Lei 9.610/98 (Direitos Autorais) e Lei 13.709/18 (LGPD). Reprodução parcial permitida mediante citação da fonte e autoria CMP Palácio.