Point da Psicanálise – por Profª Dra. Cléo Palácio

Um espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo.

 

Aqui, a psicanálise ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível. Este é o Point da Psicanálise, o lugar onde teoria e experiência se encontram, e o saber científico se torna também encontro humano.

 

A Ética no Atendimento Integrado: Como Psicanálise e Neurociências se Complementam na Clínica Contemporânea

 

Por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Profissional e Educacional

 

Introdução: um novo horizonte clínico

 

A clínica contemporânea exige muito mais do que técnicas isoladas. O sujeito que chega ao consultório traz sofrimentos complexos, atravessados por múltiplos determinantes: emocionais, afetivos, neurobiológicos, sociais e culturais. Unir Psicanálise e Neurociências, de forma ética e embasada, não significa misturar teorias incompatíveis, significa ampliar a escuta, refinar a percepção e compreender o sofrimento humano por múltiplas vias. Essa integração não substitui a singularidade do sujeito, tão cara à psicanálise, mas aprofundar o entendimento da experiência, sem reduzir o ser humano a impulsos nem a circuitos cerebrais.

 

1. A Ética da Psicanálise: o sujeito acima de tudo

 

Freud sempre afirmou que a psicanálise é uma clínica da palavra, do desejo, do inconsciente e da singularidade de cada sujeito.

No centro de sua ética está a ideia de que o analisando é quem sabe, ainda que não saiba que sabe. Jacques Lacan reforça essa perspectiva ao afirmar que o analista deve: sustentar a palavra do sujeito; não impor interpretações fechadas; respeitar o tempo subjetivo; não ocupar o lugar do “saber” sobre o outro.

Em Função e Campo da Fala e da Linguagem (1953), Lacan lembra que o analista deve sempre manter a “subjetividade de sua época” no horizonte, ou seja, escutar o sujeito contemporâneo a partir do mundo real em que vive. A ética da psicanálise é, antes de tudo, a ética da não sugestão, da não manipulação, da não normatividade, e do respeito incondicional ao sofrimento singular.

 

2. A Ética da Neurociência: evidência, impacto e cuidado

 

A neurociência, representada por nomes como Eric Kandel, Joseph LeDoux, Antonio Damásio e Daniel Siegel, tem contribuído de forma profunda para a compreensão dos processos: emocionais, mnésicos, de regulação, de sensibilidade ao estresse, de resposta traumática. Ao contrário do que muitos imaginam, a neurociência não reduz a subjetividade ao cérebro, mas amplia a compreensão do funcionamento humano. Damásio (1994) demonstra que emoções e decisões são inseparáveis; LeDoux mostra como a amígdala participa do processamento do medo; Kandel explica como a experiência modifica o cérebro.

A ética da neurociência envolve:

trabalhar com evidências reais;

não patologizar excessivamente;

não transformar o sofrimento em diagnóstico vazio;

compreender limites e alcances das descobertas.

 

3. Por que integrar? A clínica do século XXI pede diálogo

 

O sofrimento atual combina: angústias profundas; sintomas corporais; impulsividade; ansiedade digital; dificuldades de regulação emocional; excesso de estímulos; traumas precoces. Como lembra Joel Birman, o mal-estar contemporâneo está concentrado no corpo, na ação e no excesso, fenômenos que a psicanálise já nomeou, mas que a neurociência ajuda a compreender em nível fisiológico. A integração é ética quando não reduz, não contradiz, não invade o espaço da outra disciplina, mas amplia o olhar clínico.

 

4. Como funciona na prática o atendimento integrado?

 

4.1 Escuta psicanalítica: o sujeito fala

 

A sessão começa com a escuta livre, sem roteiro, sem interrogatório, permitindo que: o inconsciente se coloque, repetições apareçam, ligações simbólicas emerjam. É a dimensão “vertical” da clínica.

 

4.2 Olhar neurocientífico: o corpo fala

 

Ao mesmo tempo, o profissional observa: sinais de hipervigilância (LeDoux), dificuldades de regulação (Siegel), traços de resposta traumática (van der Kolk), impactos do estresse prolongado (Sapolsky). É a dimensão “horizontal”, que considera o corpo e o cérebro como parte da experiência emocional.

 

4.3 A ponte entre os dois mundos

 

Autores como Solms e Panksepp mostram que: o inconsciente tem bases neurais, o afeto é fundamental para o pensamento, o corpo participa da formação do sentido, emoções básicas estruturam vínculos e escolhas. A ética está em não usar neurociência para controlar o sujeito, mas para compreendê-lo mais profundamente, sempre com a primazia da palavra.

 

5. O que nunca deve ser feito: erros éticos comuns

 

usar neurociência para diagnosticar o paciente de forma precipitada;

reduzir sofrimento a “alterações químicas”;

usar psicanálise para interpretar o sujeito sem escutá-lo;

misturar abordagens de forma confusa e sem base teórica;

impor técnicas sem o consentimento do paciente.

 

6. O que torna essa integração tão poderosa?

Porque ela une:

a singularidade (psicanálise)

com a evidência científica (neurociência)

com o olhar humano (sua prática CMP Palácio)

Isso cria um modelo clínico moderno, ético, profundo e científico, exatamente o que o século XXI exige.

 

Conclusão

 

Integrar psicanálise e neurociências não é uma fusão ingênua, mas uma prática sofisticada, capaz de respeitar a profundidade simbólica do sujeito e, ao mesmo tempo, compreender como emoções, traumas, vínculos e experiências corporais moldam a subjetividade. É um caminho ético, cuidadoso e profundamente humano.

 

Nota Ética e Autoral – CMP Palácio | Point da Psicanálise & Neurociência

 

Texto elaborado e adaptado pela Profª Dra. Cléo Palácio, com base em autores clássicos da Psicanálise (Freud, Lacan, Winnicott, Bion) e referências consolidadas das Neurociências (Kandel, Damásio, LeDoux, Siegel, Panksepp, Solms), seguindo as diretrizes da Lei 9.610/98 (Direitos Autorais) e da Lei 13.709/18 (LGPD).

Reprodução parcial permitida somente com citação da fonte: “Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional”.

Texto inspirado em fundamentos científicos de domínio público e adaptado de forma autoral para fins educacionais, científicos e culturais.