Um espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo.
Aqui, a psicanálise ganha voz viva, coração
pulsante e linguagem acessível.
Cada texto nasce do diálogo entre emoção e pensamento, entre ciência e alma.
Este é o Point da Psicanálise, o ponto de encontro entre a teoria e a
vida,
onde o inconsciente é visto não como mistério distante, mas como o mapa
interno das nossas escolhas, dores e renascimentos.
A cada nova leitura, um convite: sentir, compreender,
transformar.
Reflexões escritas por Profª. Dra. Cléo Palácio –
CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.
Baseado na entrevista publicada pelo Fronteiras do
Pensamento (2017), com a psicanalista Vera Fonseca e o neurocientista Ivan
Izquierdo.
Intodução
Durante décadas, psicanálise e
neurociência pareciam caminhar em estradas opostas: uma mergulhada no
inconsciente e nos símbolos, a outra focada em sinapses e redes neurais. Mas
hoje, a fronteira entre essas duas áreas começa a se dissolver, abrindo espaço
para um diálogo poderoso, aquele que une o sentir e o saber, o invisível e o
mensurável, o afeto e o neurônio.
Na entrevista concedida ao Fronteiras
do Pensamento, a psicanalista Vera Fonseca, diretora-científica da
Sociedade Brasileira de Psicanálise, rebate as críticas feitas pelo
neurocientista Ivan Izquierdo, que afirmara que a psicanálise teria sido
“superada” pela neurociência. Fonseca, com elegância e profundidade, nos
convida a enxergar o oposto: a neurociência não anulou a psicanálise, ela
confirmou muitas de suas teses.
O reencontro entre cérebro e inconsciente
A neurociência moderna vem
revelando algo que Freud apenas intuía: o inconsciente existe, mas é também neurobiológico.
Estudos sobre os sonhos, a memória e o comportamento emocional mostram que o
cérebro possui mecanismos automáticos de repetição, defesa e repressão,
conceitos psicanalíticos traduzidos agora em linguagem neuronal.
Como lembra Fonseca, “os
neurocientistas têm enfatizado a função dos sonhos na transformação das memórias
de curto prazo para as de longo prazo”, uma descoberta que confirma a teoria
psicanalítica sobre o papel simbólico dos sonhos. Ou seja, quando sonhamos,
o cérebro reorganiza o vivido, o mesmo que a psicanálise descreve como trabalho
do inconsciente.
Diálogo e não disputa
Pensar que uma ciência substitui
a outra é um reducionismo.
A neurociência busca a compreensão objetiva do fenômeno mental; a
psicanálise observa a vivência subjetiva da mente. Ambas olham para o
mesmo ser humano, mas de direções diferentes.
A neurocientista Heather
Berlin, citada na entrevista, defende que é inevitável que as duas áreas
compartilhem estudos, uma olha “de dentro para fora”, e a outra “de fora para
dentro”. O encontro entre elas não é oposição, mas ampliação de horizontes.
A clínica
como espaço de ciência viva
A psicanálise é mais do que
teoria, é escuta e prática. Como afirma Vera Fonseca: “Não tem como
separar a clínica da psicanálise. A psicanálise é a clínica.” É no
consultório que se constrói o saber sobre o funcionamento psíquico, assim como
é no cérebro que se registram as marcas da experiência emocional.
Freud, se vivo fosse, certamente
dialogaria com a neurociência, mas sem abdicar da poesia humana que habita o
sofrimento e a cura. Afinal, compreender o ser humano não é apenas mensurar o
que acontece no cérebro, mas escutar o que a alma tenta dizer quando o corpo
fala.
Entre ciência e arte: o método indiciário
Nem tudo o que é verdadeiro pode
ser visto.
A psicanálise, assim como a medicina e a história, usa o método indiciário,
aquele que interpreta sinais sutis, rastros e sintomas. É uma ciência da
subjetividade, e seu valor está em compreender aquilo que o microscópio não
capta, mas o olhar humano percebe.
Nesse sentido, o diálogo entre
psicanálise e neurociência não é um confronto, mas uma necessidade
contemporânea. Enquanto uma mede os impulsos elétricos, a outra traduz o
pulsar da emoção. E quando essas duas linguagens se unem, nasce uma nova forma
de ciência, a ciência que escuta.
Conclusão
Vivemos uma era em que o cérebro
pode ser visto em tempo real, mas o coração ainda precisa ser escutado.A
psicanálise e a neurociência, juntas, podem devolver ao humano o seu lugar de
complexidade e beleza.Afinal, compreender o inconsciente é compreender também o
corpo, e compreender o corpo é abrir janelas para o inconsciente.
Entre
sinapses e símbolos, nasce um novo modo de cuidar. O que
antes parecia oposto, hoje se revela complementar: a mente sente o que o
cérebro registra, e o cérebro confirma o que a alma pressente.
Referência base: NSECA, Vera. “Neurociência
confirmou muitas teses da psicanálise”, diz psiquiatra. Entrevista
concedida ao portal Fronteiras do Pensamento, 2017.
Disponível em: https://www.fronteiras.com/leia/exibir/neurociencia-confirmou-muitas-teses-da-psicanalise-diz-psiquiatra. Acesso
em: 28 out. 2025.
Point da Psicanálise
Encerrar um texto é como respirar
fundo depois de uma escuta profunda.
Cada reflexão aqui é um convite para se olhar com mais ternura,
para compreender o que antes apenas doía, e, quem sabe, transformar.
A psicanálise nos ensina que todo
sentir é também um saber,
e que compreender o inconsciente é abrir espaço para o florescer da
consciência.
Se cada leitura te fizer pensar, sentir e cuidar de si com mais gentileza,
então este Point cumpriu o seu propósito.
Texto adaptado e comentado por
Profª. Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e
Profissional. Siga acompanhando o Point da Psicanálise,
reflexões semanais sobre mente, afeto e sentido de existir.