Um
espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo. Aqui, a
psicanálise ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível. Cada texto
nasce do diálogo entre emoção e pensamento, entre ciência e alma.
Este é o Point da Psicanálise
, o ponto de encontro entre a teoria e a vida,
onde o inconsciente é visto não como mistério distante, mas como o mapa
interno das nossas escolhas, dores e renascimentos. A cada nova leitura, um
convite:
sentir, compreender, transformar.
Reflexões
escritas por Profª. Dra. Cléo Palácio – Instituto CMP Palácio Desenvolvimento
Humano, Educacional e Profissional. Uma leitura psicanalítica inspirada em Juan-David Nasio (2013) e na
resenha de Ricardo da Silva Franco, Universidade Estadual de Londrina. Repetir
é humano. Mas por que insistimos nos mesmos erros, mesmo quando sabemos que o
caminho nos machuca? A psicanálise entende que por trás de cada repetição
existe uma força invisível do inconsciente que busca não apenas reviver, mas
tentar reparar o que ficou mal resolvido. O renomado psicanalista Juan-David
Nasio, em sua obra “Por que
repetimos os mesmos erros” (Zahar, 2013), analisa esse fenômeno com
sensibilidade e profundidade. Em linguagem acessível, o autor traduz os
conceitos da escola lacaniana, apoiando-se em exemplos clínicos reais para
revelar como o ser humano, muitas vezes, recria situações de dor ,não por
masoquismo, mas por necessidade inconsciente de elaborar o trauma original.
Segundo Nasio, a repetição é
movida por leis que regem o inconsciente: a lei do Mesmo e do Diferente,
a lei da Presença e da Ausência, e a lei do Observador.
Essas dinâmicas mostram que nenhum retorno é idêntico ao anterior , sempre há
algo novo no que se repete. Cada comportamento, cada escolha, é uma tentativa
simbólica de encontrar sentido e equilíbrio entre o que foi vivido e o que
ainda precisa ser compreendido. A diferença entre uma repetição sadia e
uma repetição patológica está na função que o ato desempenha.
A repetição sadia nos ajuda a
consolidar a identidade, fortalecer o Eu e desenvolver potenciais; já a
repetição patológica aprisiona o sujeito em um ciclo de fracassos, dor e culpa.
Em ambos os casos, há um fio condutor: o passado que retorna no presente
,seja nas lembranças, nas atitudes ou nos sintomas emocionais. Nasio aponta
quatro possíveis explicações para essa força compulsiva:
1️ a
falha na simbolização do trauma;
2️ a descarga psíquica como forma de aliviar a angústia;
3️ o desejo inconsciente de reviver a cena infantil traumática;
4️ e a limitação simbólica, em que o sujeito repete porque não conhece outra
forma de satisfação.
A psicanálise, nesse contexto, se
propõe como espaço de ressignificação.
Ao revisitar o passado com um olhar analítico e compassivo, o sujeito pode
compreender a lógica interna do seu sintoma e interromper o ciclo da repetição.
Entender o porquê de nossas escolhas é o primeiro passo para reconstruir o modo
como vivemos, amamos e reagimos ao mundo. Como afirma Nasio, “o sujeito é
aquilo que ele repete”. E talvez, ao transformar o modo como repetimos,
possamos reinventar o modo como existimos.
Referência base:
FRANCO, Ricardo da Silva. Por que repetimos os
mesmos erros. Resenha da obra de Juan-David Nasio. Estudos
Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 6, n. 1, p. 130–133, 2015. Disponível
em: https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n1p130.
POINT DA PSICANÁLISE
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um texto é como respirar fundo depois de uma escuta profunda.
Cada reflexão aqui é um convite para se olhar com mais ternura,
para compreender o que antes apenas doía
e, quem sabe, transformar. A psicanálise nos ensina que todo sentir é
também um saber, e que compreender o inconsciente é abrir espaço para o
florescer da consciência. Se cada leitura te fizer pensar, sentir e cuidar de
si com mais gentileza, então este Point cumpriu o seu propósito.
Texto
adaptado e comentado por Profª. Dra. Cléo Palácio –Instituto CMP Palácio
Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional. Siga acompanhando o Point da Psicanálise,
reflexões semanais sobre mente, afeto e sentido de existir.