Point da Psicanálise – por Profª. Dra. Cléo Palácio

 

Um espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo.

 

Aqui, a psicanálise ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível. Cada texto nasce do diálogo entre emoção e pensamento, entre ciência e alma. Este é o Point da Psicanálise, o ponto de encontro entre teoria e vida, onde o inconsciente se revela como mapa interno das nossas escolhas e do nosso cuidado emocional. Reflexões adaptadas e comentadas por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.

 

Como é uma sessão de psicanálise?

 

Um olhar acolhedor sobre o que acontece no consultório, para quem deseja entender, além do divã, o movimento interno que transforma.

 

Introdução

 

Você já se perguntou como funciona uma sessão de psicanálise? Muitas pessoas têm curiosidade, “como é sentar em frente a um analista?”, “o que eu digo?”, “vou ficar apenas falando dos meus problemas?” A verdade é que uma sessão de psicanálise é muito mais do que isso: é um espaço de escuta profunda, de encontro consigo, e de construção de sentido. Neste texto, vamos acompanhar o passo-a-passo típico da sessão, entender o papel de cada participante, paciente e analista, e descobrir o que faz dela uma experiência transformadora.

 

1. O ambiente e o início da sessão

 

A sessão geralmente ocorre em um consultório silencioso, confortável, onde o paciente encontra uma poltrona ou o divã (dependendo da abordagem). A configuração importa porque cria um espaço seguro, livre de julgamentos e interrupções.mO início marca o momento de chegada: o paciente traz o que for presente naquele dia, um sonho, uma emoção, um conflito, ou mesmo a sensação de “nada mudou”. O analista, por sua vez, está ali com escuta atenta e postura neutra. Ele não interrompe precipitadamente; espera a fala emergir. Este momento inicial é fundamental porque o silêncio também fala.

 

2. A fala livre e o fluxo da associação

 

Uma das bases da psicanálise freudiana é a associação livre: o paciente fala o que vier à mente, sem filtro, sem autocorreção. Pode começar por algo pequeno: “Hoje não dormi bem”, ou “Tive uma discussão com meu chefe”. A partir disso, o fluxo se abre, lembranças, sensações, sonhos, fantasias. Tudo isso entra em cena. É nesse movimento que o inconsciente se faz ouvir, não diretamente, mas por meio de lapsos, repetições, imagens, falas desconectadas. O analista escuta sem tentar “consertar” ou “dar solução”. Ele acompanha, devolve, às vezes pergunta: “E depois disso o que veio à sua mente?”, ou “Quando isso apareceu para você pela primeira vez?”. E, devagar, o que estava guardado se torna tema, e o tema se torna ação.

 

3. A transferência e o espelho do passado

 

Na psicanálise, a sessão traz à tona não apenas o que o paciente vive no “lá fora”, mas o que ele repete “aqui dentro”. Esse fenômeno é a transferência: quando o paciente repete com o analista padrões de relação que viveu com figuras importantes (pais, parceiros, chefes). Por exemplo: a pessoa se sente rejeitada pelo analista como se estivesse sendo rejeitada pelo pai; ou se sente pode “vencer” o analista como no trabalho. Esse espelho do passado é ouro clínico, porque permite que o sujeito veja o que repetia sem ver, e, a partir disso, comece a transformar.

 

4. O papel do analista e a escuta que transforma

 

O analista não é conselheiro ou coach. Ele é escuta, presença, espelho não-julgador. Ele não dá “tarefas”, não faz “atividades” fora da sessão (na maioria das abordagens). Ele manté o setting, horário, frequência, contrato. Ele segue a ética da psicanálise. Na sessão, o analista devolve aos poucos aquilo que surge: um silvo de comentário, uma pergunta suave, um eco do que o paciente trouxe. Esse reflexo permite que o paciente faça o movimento de volta sobre si, veja o ponto-cepa da repetição, perceba que aquele padrão que “aparece sempre” pode ser compreendido. E essa compreensão já é transformação.

 

5. A dor, a repetição e a elaboração

 

Muitas vezes, o paciente entra com algo urgente: uma crise de ansiedade, uma repetição de briga, uma sensação de “sempre repetir”. Na sessão, mais do que falar sobre o problema, o sujeito descobre o porquê do padrão. Ele vê que aquele “sempre repetir” não era falta de força de vontade, mas insistência de algo não ouvido. A elaboração acontece quando o paciente sofre menos por repetir e passa a ouvir o que a repetição está dizendo. Freud já dizia: não basta recordar, é preciso elaborar. E elaborar é traduzir o que estava encenando em palavra, vínculo e sentido.

 

6. Encerramento da sessão e continuidade

 

A sessão termina com a marcação do próximo encontro. No silêncio que fica até a próxima cadeira vazia, algo já foi afetado. Não se trata de “estar curado”. Trata-se de ter dado início a um movimento de consciência, onde o sujeito já não está simplesmente sendo governado pelo padrão invisível. A continuidade (geralmente 1 a 3 vezes por semana) ajuda a criar o ritmo necessário para que o inconsciente se manifeste, e para que a transformação aconteça.

 

Conclusão

 

Uma sessão de psicanálise é mais do que falar. É encontrar-se com o invisível, deixar que o que não podia aparecer venha à luz e seja ouvido. É o lugar onde o passado se encontra com o presente e pode ser ressignificado. Se você está pensando em começar, saiba que não é sobre resolver rápido, é sobre compreender fundo, sobre abrir o silêncio e ouvir o que você ainda não soube escutar de si.

 

Referências principais:

 

FREUD, Sigmund. Recordar, Repetir e Elaborar. In: Obras Psicológicas Completas, Vol. 12. Rio de Janeiro: Imago.

 

FREUD, Sigmund. Além do Princípio de Prazer. In: Obras Psicológicas Completas, Vol. 18. Rio de Janeiro: Imago.

 

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

 

Nota Ética e Autoral – CMP Palácio | Point da Psicanálise

 

Este conteúdo foi elaborado e adaptado pela Profª Dra. Cléo Palácio, com base em fontes teóricas clássicas da Psicanálise, Neurociência e Ciências Humanas, incluindo obras de domínio público e referências acadêmicas consagradas.

O texto tem finalidade educacional, científica e cultural, não comercial, e segue os princípios da Lei 9.610/98 (Direitos Autorais) e da Lei 13.709/18 (LGPD), assegurando a devida citação ética e o uso responsável do conhecimento.

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Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.