Point
da Psicanálise – por Profª Dra. Cléo Palácio
Um
espaço de pausa, reflexão e reencontro consigo.
Aqui,
a psicanálise ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível.
Este
é o Point da Psicanálise, o lugar onde teoria e experiência se encontram, e o
saber científico se torna também encontro humano.
Texto
adaptado e comentado por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento
Humano, Educacional e Profissional
Reconfigurando a Autoimagem com Base na Neurociência
A primeira etapa para
reconstruir a autoimagem e fortalecer o poder pessoal é curar o passado. Do
ponto de vista neurocientífico, o cérebro humano é uma máquina de repetição:
ele reforça os circuitos que mais são ativados. Cada lembrança, emoção ou
pensamento recorrente cria sinapses, conexões elétricas e químicas entre os
neurônios. Quando uma pessoa revive constantemente situações de dor, culpa ou
arrependimento, o cérebro entende que esse é o padrão emocional predominante e
passa a reproduzi-lo automaticamente.
Ao falar com o próprio
passado e perdoar o que aconteceu, a pessoa está literalmente criando novas
vias neurais ligadas à aceitação, à compaixão e à gratidão. Esse ato simbólico
de dizer “passado, você está perdoado” estimula o córtex pré-frontal, área
responsável pela tomada de decisão e pelo raciocínio moral, e reduz a
hiperatividade da amígdala cerebral, estrutura associada às reações de medo e
defesa. Na prática, o perdão e o reconhecimento do passado como aprendizado
promovem um recondicionamento neural, diminuindo o estresse e favorecendo estados
mentais mais equilibrados.
A segunda prática
proposta, listar dez qualidades pessoais e repeti-las em voz alta, tem respaldo
nas descobertas sobre a neuroplasticidade positiva. Quando se afirma algo sobre
si mesmo de maneira consciente e repetitiva, o cérebro ativa o sistema
dopaminérgico de recompensa. A dopamina é o neurotransmissor ligado à motivação
e ao prazer, e sua liberação reforça a percepção de valor próprio. Pesquisas da
psicologia positiva e da neurociência afetiva (como as de Richard Davidson,
2012) mostram que afirmações positivas diárias fortalecem a autorregulação
emocional e ajudam a reprogramar o cérebro para reconhecer o que há de bom em
si mesmo, em vez de focar apenas nas falhas.
Colocar como primeira
afirmação “Eu sou um ser divino” tem base profunda na integração
mente-corpo-espírito. Estudos sobre espiritualidade e neurociência (Newberg
& D’Aquili, 2001) demonstram que a meditação e os estados de conexão com o
sagrado ativam regiões do córtex parietal e do córtex pré-frontal medial,
promovendo sensação de propósito, pertencimento e unidade. Isso não é apenas
uma crença: é um estado neurobiológico mensurável que amplia a sensação de
sentido e reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.
Por fim, o exercício do
espelho, olhar nos próprios olhos e dizer “eu te amo”, “eu te aceito”, “eu te
respeito”, é uma poderosa técnica de integração emocional. Essa prática ativa o
sistema límbico, especialmente o hipocampo, responsável pelas memórias
afetivas, e estimula a liberação de ocitocina, conhecida como o “hormônio do
vínculo”. Essa combinação cria um circuito interno de segurança e amor próprio,
reforçando a autocompaixão. Quando isso se torna um hábito diário, o cérebro
aprende a associar a própria imagem a emoções positivas, diminuindo as
oscilações de autoestima e fortalecendo os “pilares de sustentação emocional”.
A neurociência comprova
que, ao repetir práticas de perdão, gratidão e autoaceitação, o cérebro passa
por um processo chamado reconsolidação da memória emocional. Em outras
palavras, não se apaga o passado, mas se ressignifica o modo como ele é
armazenado. Essa mudança biológica é o que permite à pessoa deixar de reagir a
antigos gatilhos e começar a agir de forma mais consciente, equilibrada e
confiante.
Parte Prática: Passos Neuroemocionais para
Fortalecer a Autoimagem
A neurociência mostra que a repetição
consciente cria novas conexões cerebrais. Por isso, a prática precisa ter
sequência, intenção e constância. A seguir, o passo a passo completo para
reconstruir a autoimagem e fortalecer o poder pessoal:
Passo 1 – Conversa com o Passado
Reserve um momento tranquilo do dia.
Feche os olhos, respire fundo e fale com o seu passado como se conversasse com
uma pessoa. Diga em voz alta: “Passado, você foi necessário para que eu fosse
quem eu sou hoje. Eu te perdoo, aprendi contigo e a partir de agora é vida
nova.” Esse exercício atua no córtex pré-frontal, responsável por reorganizar
memórias e promover o perdão, o que reduz a atividade da amígdala cerebral e
acalma o sistema nervoso.
Passo 2 – Lista das Dez Qualidades
Pegue um papel e escreva dez qualidades
suas. A primeira deve ser: “Eu sou um ser divino.” Depois, complete conforme
sua percepção: “Eu sou amorosa.” “Eu sou responsável.” “Eu sou criativa.” “Eu
sou perseverante.” Todas as manhãs, após sua oração ou momento de silêncio,
leia em voz alta essa lista. Essa
leitura estimula o sistema dopaminérgico, responsável pela motivação e pela
autoconfiança.
Passo 3 – A Prática do Espelho
Após ler suas qualidades, vá até o
espelho. Olhe nos seus próprios olhos, é a alma que você está olhando. Diga em
voz alta: “Eu te amo.” “Eu te aceito.” “Eu te respeito.” Sorria após cada
frase. Essa prática libera ocitocina, o hormônio da conexão, e cria novos
circuitos emocionais de segurança interna.
Passo 4 – Constância e Reforço Positivo
Repita essa sequência todos os dias por
21 dias consecutivos. A neurociência chama esse período de janela de
reconsolidação neural, tempo necessário para que o cérebro registre novos
padrões de pensamento e emoção. Com o tempo, o que era exercício se transforma
em modo de ser: autêntico, confiante e em paz com a própria história.
Referências Científicas
DAMASIO, António
R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.
DAVIDSON,
Richard J. O estilo emocional do cérebro: como a neurociência explica a
diferença entre pessoas otimistas e pessimistas. Rio de Janeiro: Objetiva,
2012.
DOIDGE, Norman.
O cérebro que se transforma: a neuroplasticidade em ação. Rio de Janeiro:
Record, 2010.
GOLEMAN, Daniel.
Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser
inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
NEWBERG, Andrew;
D’AQUILI, Eugene. Why God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of
Belief. New York: Ballantine Books, 2001.
Nota Ética e Autoral – CMP Palácio | Point da
Psicanálise
Texto
inspirado nas obras de Freud e em estudos contemporâneos da psicanálise e da
neurociência, com interpretação autoral de Profª Dra. Cléo Palácio.
O
conteúdo é elaborado e adaptado pela autora com base em fontes teóricas
clássicas e científicas de domínio público e acadêmico, com finalidade
educacional, científica e cultural, em conformidade com a Lei 9.610/98
(Direitos Autorais) e a Lei 13.709/18 (LGPD).
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“Profª
Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.”