Point da
Psicanálise – por Profª Dra. Cléo Palácio
Um espaço de
pausa, reflexão e reencontro consigo.
Aqui, a
psicanálise ganha voz viva, coração pulsante e linguagem acessível.
Cada texto nasce
do diálogo entre emoção e pensamento, entre ciência e alma.
Este é o Point
da Psicanálise, o ponto de encontro entre teoria e vida, onde o inconsciente se
revela como mapa interno das nossas escolhas e do nosso cuidado emocional.
Reflexões
adaptadas e comentadas por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio
Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.
Baseado no
artigo original de Luiz Prado – Jornal da USP (2021)
Texto adaptado e
comentado por Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio Desenvolvimento Humano,
Educacional e Profissional.
A Revolução de Lacan: quando a psicanálise
atravessou fronteiras
Jacques Lacan (1901-1981) foi o
psicanalista francês que transformou a maneira de compreender o inconsciente.
Inspirado por Freud, mas guiado pelo diálogo com a filosofia, a linguística e a
arte, ele recolocou a psicanálise no centro das ciências humanas.
Seu famoso enunciado, “o inconsciente se
estrutura como uma linguagem”, marcou uma virada decisiva. Ao deslocar o foco
das bases biológicas para a linguagem, Lacan inaugurou uma nova epistemologia
do sujeito, na qual o ser humano é compreendido por meio dos símbolos que o
atravessam.
Das ciências biológicas à linguagem e cultura
No início do século XX, a psicanálise
ainda era vista como extensão da medicina. Freud, neurologista, estudava o
psiquismo a partir do corpo e dos sintomas.
Lacan rompeu com essa herança.
Influenciado por Ferdinand de Saussure, Roman Jakobson e Claude Lévi-Strauss,
ele argumentou que o inconsciente não é depósito de lembranças reprimidas, mas
um sistema simbólico que fala através de nós. Segundo o professor Christian
Dunker, do Instituto de Psicologia da USP, essa transição “tirou o inconsciente
das profundezas e o trouxe para a superfície da fala”. O sintoma, então, passou
a ser lido como um texto, uma forma de dizer aquilo que o sujeito não sabe que
diz.
A influência do surrealismo
A aproximação de Lacan com os artistas surrealistas,
como André Breton, Salvador Dalí e Pablo Picasso, marcou sua juventude e moldou
seu pensamento.
Em vez de buscar a linearidade
científica, Lacan acolheu o paradoxo, o sonho, o equívoco e a metáfora como
expressões legítimas da subjetividade.
Seu convívio com o grupo surrealista deu
origem à noção de real, um dos três registros fundamentais de sua teoria, ao
lado do simbólico e do imaginário, que servem para compreender como o ser
humano se constitui em meio ao desejo, à falta e à linguagem.
O tripé simbólico, imaginário e real
O Imaginário é o domínio das imagens e
identificações: onde o sujeito se vê e se confunde com o outro. O Simbólico é a
estrutura da linguagem, das leis e da cultura, o espaço em que o sentido se
organiza. O Real é o que escapa à simbolização, o impensável, o impossível de
dizer, aquilo que retorna como sintoma ou repetição. Como explica Dunker, “o
real, para Lacan, representa o que é impensável e inominável, mas que ainda
assim existe”.
Essa concepção ampliou a psicanálise
para além da clínica individual, permitindo ler a sociedade, a arte e a cultura
como campos atravessados por desejo, discurso e falta.
A escuta lacaniana: menos explicação, mais
acontecimento
A prática lacaniana
também se transformou. O foco da escuta passou a ser a forma como o paciente
fala, e não apenas o conteúdo. O analista intervém pouco, privilegiando o silêncio
e a pontuação precisa. Cada sessão tem duração variável, guiada pela lógica da
fala, pode terminar em 15 minutos ou se estender por horas, conforme o momento
da palavra.
Nas palavras de Dunker:
“Não é o analista que analisa o paciente. É o sujeito quem se analisa, ao
escutar o que diz.” Essa ética da escuta deu à psicanálise uma dimensão poética
e transformadora, onde a linguagem cura por meio do encontro com o
inconsciente.
O legado: uma psicanálise viva e interdisciplinar
Com Lacan, a psicanálise saiu do
consultório e dialogou com a filosofia, a literatura, a semiótica e a
antropologia. Sua influência se estende até hoje em universidades, clínicas e
movimentos culturais. Mais do que um teórico, Lacan foi um pensador da
linguagem e da falta, que ensinou que compreender o sujeito é ouvir o que não
se diz.
Referência
principal
PRADO, Luiz.
Como Lacan renovou a psicanálise e a aproximou das ciências humanas. Jornal da
USP, Cultura, 13 abr. 2021. Disponível em:
https://jornal.usp.br/cultura/como-lacan-renovou-a-psicanalise-e-a-aproximou-das-ciencias-humanas/
. Acesso em: 7
nov. 2025.
Outras fontes
complementares:
LACAN, Jacques.
Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
DUNKER,
Christian. Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica. São Paulo:
Annablume, 2011.
FREUD, Sigmund.
A Interpretação dos Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Nota Ética e
Autoral – CMP Palácio | Point da Psicanálise
Texto inspirado
no artigo jornalístico de Luiz Prado (Jornal da USP, 2021) e em fontes teóricas
clássicas da Psicanálise, com interpretação e curadoria autoral de Cléo
Palácio.
O conteúdo é
elaborado com finalidade educacional e científica, conforme a Lei 9.610/98
(Direitos Autorais) e a Lei 13.709/18 (LGPD).
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???? “Profª Dra. Cléo Palácio – CMP Palácio
Desenvolvimento Humano, Educacional e Profissional.”